Se você souber ler nas entrelinhas, não busque nas minhas palavras somente o que foi dito. Leia também os meus olhos, porque eles dizem muito do que eu quero e não devo. Leia esse movimento do tempo, que atravessa os nossos dois corpos, enquanto trocamos esses dizeres. Olhe para baixo e perceba que o chão nos mantém firmes na realidade, e olhe para cima e sonhe alto. Em voz alta. Leia, além das palavras, o silêncio que se propaga da minha boca na mesma frequência em que eu olho para você. Leia-me. Leia-me suavemente, aproveitando cada sentido. Cada emoção que se trama no meu corpo, enquanto digo. Leia-me nervosamente. Entendendo que não é só de paz que se trava o jogo. Duelos estão também na minha boca. Se você souber ler nas entrelinhas, entenderá que, se eu te responder que estou bem, eu não estou. Se você me ler nas entrelinhas, entenderá que eu morro por dentro a cada segundo. E essa morte é a morte que eu quero encontrar. Porque a paz, a paz, ela não existe. A vida é um jogo que se joga: e que se perde. E essa derrota é dolorida pra mim. Mas me deixa cada vez mais perto de tudo. Me deixa mais humano do que nunca. Se você souber ler nas entrelinhas, me entenderá. E pronto.
Eduardo Nagai
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